Os da GenZ estão mesmo bebendo menos? O que os dados do Datafolha revelam sobre o consumo de álcool no Brasil?

Quando o assunto é consumo de bebidas alcoólicas, uma pergunta tem rodado tanto nas redes quanto nas mesas de bar: será que a Geração Z está realmente bebendo menos?

E mais: essa mudança no consumo de álcool está ligada a uma preocupação real com a saúde ou estamos olhando só para a ponta do iceberg?

Essas foram as provocações que guiaram a conversa entre Ludmyla Almeida e Henrique Boaventura no Surra de Lúpulo desta semana. Um papo que não trouxe respostas definitivas — e nem era essa a proposta —, mas abriu espaço para reflexões mais profundas sobre os hábitos de consumo no Brasil.

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De onde vem essa história de que a Geração Z bebe menos?

Entre conversas de redes sociais e diagnósticos a partir de pesquisas estrangeiras, essa discussão ganhou mais força recentemente dos lados de cá após a publicação de uma matéria do G1 no início de maio de 2025, baseada em uma pesquisa do Datafolha.

Nela, o dado que mais chamou atenção foi este: metade dos brasileiros afirma ter reduzido o consumo de bebidas alcoólicas no último ano. O principal motivo? Saúde.

GenZ no alcohol

📊 Dados da pesquisa:

  • 1.912 entrevistados
  • De 113 municípios brasileiros
  • Realizada entre 8 e 9 de abril de 2025
  • Margem de erro: 2 pontos percentuais para mais ou para menos

Porém, ao olhar mais de perto, surge a primeira contradição:

  • Quem mais consome álcool são os jovens (18 a 34 anos), os homens e os ricos.
  • Por outro lado, mulheres e jovens são os que mais relatam ter diminuído o consumo, muito mais por fatores econômicos do que por escolha consciente de saúde.

A pesquisa Datafolha explica tudo?

Henrique traz uma pergunta bem direta: “Será que essa pesquisa chega nos bares de periferia, nos botecos de vila, onde a galera segue bebendo como rotina? Será que ela captura quem consome, mas não está no radar desses levantamentos?”

Ainda que a metodologia seja a mesma aplicada em pesquisas eleitorais — considerada robusta —, Lud pondera que, num país com mais de 5 mil municípios, 113 é muito pouco para afirmar verdades absolutas sobre hábitos de consumo tão diversos.

De modo que a pesquisa serve, sim, como bússola, mas não pode ser encarada como um espelho fiel de toda a realidade.

Menos álcool ou mais alternativas?

“Será que a Geração Z está bebendo menos… ou só está se entorpecendo de outras formas?”

Essa geração cresceu em meio às telas, redes sociais, joguinhos, scrolling infinito e dopamina digital. Assim, alterar o estado de consciência significa menos ainda o exclusivo consumo de álcool.

Além disso, o boom de diagnósticos de ansiedade, depressão e TDAH trouxe também junto o aumento no consumo de ansiolíticos, antidepressivos e estimulantes. Isso sem falar no acesso muito mais fácil às drogas recreativas — lícitas ou ilícitas. 💊

O álcool perdeu espaço? Talvez. Mas não necessariamente para a sobriedade.

Geração Z no bar

Saúde ou desculpa social? O que dizem os dados

🔎 Por que quem não bebe escolhe não beber?

Segundo o Datafolha:

  • 🏥 34% citam saúde
  • 😝 21% dizem não gostar do sabor
  • ✝️ 13% apontam motivos religiosos

🗨️ Henrique comenta: “Se saúde fosse um fator tão determinante, então 66% da população não estaria basicamente ignorando esse argumento.”

🍻 E quem bebe, como se percebe?
  • 20% dos brasileiros bebem 1 ou 2 vezes por semana
  • 81% consideram que fazem isso de maneira adequada
  • Apenas 18% reconhecem que bebem mais do que deveriam

🧠 Lud cutuca: Autopercepção não é realidade. Quase todo mundo acha que bebe menos do que de fato bebe.”

Dinheiro, desigualdade e quem pode beber no Brasil

Além de tudo, a pesquisa mostra claramente que dinheiro pesa no consumo de álcool:

💰 Faixa de Renda 🍺 Consome álcool (%)
Até 2 salários mínimos 43%
De 5 a 10 salários mínimos 64%

Henrique traz uma questão crucial: “Mas o que essas pessoas estão bebendo?”

  • Uma IPA de R$ 35?
  • Uma cachaça de balcão?
  • Um latão de pilsen por R$ 6?

Os números brutos não dizem nada sobre o tipo de bebida, o volume consumido, nem o impacto financeiro desse hábito.

O peso do gênero, da raça e do contexto social no consumo de álcool

Lud aponta uma realidade ignorada em muitas análises de mercado: mulheres são mais de 50% da população brasileira. Muitas são mães solo, chefes de família, acumulam múltiplas jornadas e têm menos espaço — de tempo, de grana e social — para inserir consumo de bebidas alcoólicas em suas rotinas.

E Henrique complementa: “se já julgam homens que bebem, imagina mulheres. E se forem mães, então… a sociedade surta.”

Além disso, o Brasil é majoritariamente negro, mas ainda hoje as estratégias de marketing, pesquisa e abordagem ignoram esse público, que é maioria e não minoria.

O álcool está em crise — ou em competição?

A tese central do papo é simples, mas poderosa: “o consumo de álcool não está necessariamente em queda. Está, sim, em competição.”

Competindo com:

  • Telas e redes sociais
  • Dopamina fácil via joguinhos, likes, streams
  • Drogas lícitas e ilícitas
  • Medicações controladas
  • Outras formas de recompensa instantânea

Beber não é mais a única válvula de escape. A lógica do “vou tomar uma cerveja depois do trabalho” está sendo trocada por “vou maratonar uma série, jogar ou dar scroll infinito até dormir”.

Geração Z e o álcool

A Geração Z realmente bebe menos?

Talvez a pergunta não devesse ser se a Geração Z está bebendo menos, e sim: “afinal, eles estão bebendo menos ou só estão bebendo diferente?”

O álcool, em suma, não desapareceu. Assim como aconteceu com o cigarro — que foi de símbolo cool para cafona e hoje voltou disfarçado de “pendrive” (vulgo vape) —, o álcool também atravessa transformações culturais, sociais e mercadológicas.

Talvez essa geração não queira beber como seus pais. E tudo bem.

Conclusão: mais perguntas do que respostas — e está tudo bem

Em síntese, este episódio não buscou oferecer respostas definitivas. Pelo contrário, o objetivo foi exatamente levantar mais perguntas do que respostas.

  • A Geração Z está bebendo menos ou só está reorganizando seus hábitos?
  • O álcool está sendo substituído ou apenas perdendo espaço na disputa pela nossa atenção?
  • As pesquisas estão ouvindo realmente quem precisa ser ouvido?
  • E as marcas, estão olhando para quem deveria estar sendo contemplado?

Se uma coisa ficou clara, é que entender o consumo de álcool (ou de qualquer coisa) exige muito mais do que olhar para números. Exige entender pessoas: suas dores, seus desejos, suas escolhas e, sobretudo, seus contextos.

E você, o que acha? Bora continuar esse papo?

Comenta no post do Instagram, responde no Spotify ou manda aquela DM. Porque, se tem uma coisa que esse episódio provou, é que o debate está só começando. 🍻

Gabriel Gurian

Historiador, com Mestrado e Doutorado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), meus estudos são pautados por bebidas e bebedores na história do Brasil, em diferentes períodos. Atualmente integro o projeto Comer História, desenvolvo pesquisa pós-doutoral na Universidade de São Paulo (USP), com foco no nascimento da cultura cervejeira brasileira no século XIX, e colaboro com o Surra de Lúpulo.

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