Nessa edição do Surra de Lúpulo, nosso podcast sobre cervejas artesanais, conversamos com Beto Tempel, da Trilha Cervejaria, sobre o processo de criação de receitas cervejeiras, para entender mesmo se o céu (da boca) é o limite da criatividade. Ouça na íntegra!

 

 

Reinheitsgebot (Lei da Pureza) e as receitas cervejeiras

 

 

A Lei da Pureza foi uma lei Alemã, criada pelo duque Guilherme IV da Baviera, em 1516. A lei estipulava que a cerveja alemã deveria ser feita apenas com água, malte de cevada e lúpulo.

 

Beto (08’39”): Na Baviera existia uma competição pela matéria prima, então uma das medidas tomadas foi proibir usar centeio na produção da cerveja. […] Essa lei realmente surgiu pra controlar os preços, e se você ler a lei, a primeira coisa que aparece são os processos. Então entra que a cerveja só poderia ser produzida usando água, malte e lúpulo. Ainda nem se falava de levedura porque não se tinha conhecimento. 

 

A lei, aplicada inicialmente apenas na Baviera, deu certo porque a cerveja mais consumida era a lagger. A população local topou e a reinheitsgebot virou cartada do marketing, como garantia de qualidade. Quando a Lei passou a valer para todo o território alemão, começaram a aparecer alguns problemas visto que outras regiões da Alemanha produziam Ales, que levavam trigo. 

 

Beto (11’13”): Essa história é interessante porque ela ensinou os cervejeiros que você não precisa de ingredientes malucos para fazer cervejas espetaculares. Ao mesmo tempo, ela gerou uma consequência negativa que foi de aprisionar a criatividade dos cervejeiros. Até 89 existia ainda uma resistência à importação de cervejas que não estivessem seguindo a lei para a Alemanha. É uma lei super importante porque exigiu padrões de qualidade que se espalharam no mundo todo. 

 

O cervejeiro caseiro e a construção de receitas

 

Ao ser questionado sobre as peripécias de ser um cervejeiro de casa, Beto riu e garantiu que o perfil do cervejeiro caseiro existe – e que ele pode ser uma ótima porta de entrada para um excelente cervejeiro de fábrica.

 

Beto (14’11”): Tem vários perfis do cervejeiro caseiro, desde o cara que só quer se divertir, independente do resultado, que vai encher a cara durante a brassagem… o caminho pode ser muito esse. Mas tem o cervejeiro caseiro que quer também fazer uma cerveja tão boa quanto uma profissional. Esse cara estuda muito! O cervejeiro caseiro começa a criação da receita a partir das receitas que vê na internet. Existe o cervejeiro que pensa “putz, to com vontade de fazer uma cerveja usando beterraba, pra ficar rosa” sem ligar pra estilos, e aí você tem o cervejeiro que tá focado em produzir estilos tradicionais – criar seu próprio caminho de fazer um estilo clássico.

O cervejeiro caseiro precisa reconhecer suas fraquezas e limitações porque nem todo equipamento é igual, nem todos têm acesso às mesmas tecnologias. Para fazer uma boa cerveja, você precisa respeitar o processo e conhecer seu equipamento e o que ele pode fazer.

 

Qualquer ideia pode virar uma receita viável de cerveja?

 

 

Sabemos que vocês, nossos ouvintes, são criaturas muito curiosas e tem esse desejo de criar cerveja na própria cozinha – mas será que aquela sua ideia daria certo? Perguntamos pro Beto:

 

Beto (30’05”): Tem coisa que não dá porque alguns compostos químicos não funcionam direito na cerveja, então seria muito difícil extrair determinados sabores e manter a cerveja estruturada. Dito isto, quase tudo dá! Fui por muitos anos cozinheiro, antes de ser cervejeiro, vivia criando receitas de comida… até descobrir o mundo da cerveja. Nessa trajetória o que mais me marcou é que a cerveja tradicional segue uma ideia que você precisa respeitar padrões; e reproduzir cervejas feitas a décadas e milênios. E por mais que admire muito isso, ainda existe muito a possibilidade de olhar a cerveja como uma experiência sensorial – e eu gosto mais dessa abordagem pra criar minhas cervejas. Até porque eu não acho que sou capaz de reproduzir tão bem uma cerveja alemã…

 

Nosso convidado desenvolveu inúmeras receitas cervejeiras para a Trilha, sendo uma delas a Pão de Mel. Para desenvolver esse rótulo, Beto desencanou dos estilos tradicionais e decidiu fazer uma cerveja com muita personalidade. No momento, ela já está no 12º lote.

 

Como pensar em receitas rentáveis?

 

Além de desenvolver uma receita bacana e harmônica, é preciso pensar na rentabilidade, certo? Principalmente na economia brasileira da atualidade.

 

Beto (41’39”): Quando falamos de cervejas rentáveis, o maior custo não é o dos insumos. O maior custo é o da industrialização e os impostos. São os salários, custo de água, manutenção de máquinas… São custos enormes. Os ingredientes correspondem só ⅓ da coisa. Não é um fator limitante, mas é importante. 

 

É preciso usar os ingredientes com inteligência na criação de receitas cervejeiras, complementa Beto. 

 

Gostaram do episódio de hoje? Que tal deixar sugestões de temas nos comentários?

 

Até a próxima!

 

👉 Ouça também Surra de Lúpulo: Cerveja Artesanal nas Periferias

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🍻 O que bebemos durante o programa? Beto bebe Flower Power, da Cervejaria Trilha. Ludmyla bebe Heineken, Leandro bebe Frohenfeld Imperial Pils

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Surra de Lúpulo

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