No episódio de hoje do seu podcast favorito sobre cervejas artesanais, Ludmyla e Leandro bateram um papo incrível com Dani e Chris, sócios fundadores do Torneira Bar. O bar que fica na Vila Madalena (SP) está mostrando que um bom ambiente cervejeiro é um ambiente acolhedor para todes. Ouça agora na íntegra:

 

 

Sobre o Torneira, bar da diversidade e inclusão

 

Foto: Divulgação (Facebook Torneira Bar)

 

Chris: A gente gostava muito de cerveja, e começamos a estudar e entrar de fato nesse mundo da cerveja artesanal; e aí veio a ideia de trabalhar com isso. Só que partindo de uma voz da Dani, como mulher preta sommelier, a gente percebeu que poderíamos fazer um bar que tivesse uma pegada não tão tradicional daquilo que o mercado cervejeiro vinha construindo. 

 

Chris ainda explica que como homem, passou por um processo de desconstrução para entender seus privilégios dentro do mercado. Quando o processo de criação do Torneira começou, Dani foi estudar gerenciamento de bar e Chris foi estudar os serviços do empreendimento. O objetivo dos sócios era ter conhecimentos complementares para gerir bem o negócio.

 

Dani: Eu, como mulher preta e sommelier de cerveja, nunca me senti muito representada nos ambientes [cervejeiros] que frequentava. A ideia da gente trazer esse ambiente confortável foi muito importante pra mim… porque é justamente isso, é muito importante ter um ambiente cervejeiro que acolha a todes. 

 

Contratações apenas de pessoas LGBTQIA+

 

O período de pandemia foi importantíssimo para que os sócios discutissem a questão de inclusão e diversidade, e como isso viria a moldar o projeto por inteiro.

 

Dani: Nós pegamos a sigla LGBTQIA + e começamos a nos perguntar quem é esse público e por que essas pessoas não frequentavam bares de cerveja artesanal. Nisso, começamos a estudar e a entender o público da sigla que, inclusive, tinha mais dificuldade no mercado de trabalho e aí chegamos na comunidade trans, travesti e não binários. Ainda dentro da sigla, é o que mais sofre preconceitos e discriminações. 

 

Ao entender que transexuais, travestis e não binários eram os que mais sofrem preconceito dentro da sigla e da própria comunidade LGBTQIA +, Chris e Dani perceberam que poderiam ajudar nesse processo de inclusão.

 

Dani: Se a gente vai pautar a diversidade, a gente precisa trazer representatividade pro nosso bar. Não é só levantar uma bandeira. O Torneira não é um bar LGBTQIA +, mas é um bar de todes que respeitam todes. Então nós direcionamos nossas vagas para a comunidade trans através do TransEmpregos, e a partir daí, toda mão de obra veio de dentro da comunidade. 

 

Dani acredita que como gestora e empreendedora, tem responsabilidade em dar empregabilidade para aqueles que são vítimas de descriminação dentro da sociedade. Cris complementa que não basta apenas dar o emprego, é preciso também tornar o local de trabalho um ambiente acolhedor, que não perpetue ciclos de violência por ser um trabalho que vai muito além de uma contratação.

 

Desafios de contratar profissionais diversos

 

O Torneira Bar se tornou um ambiente tão acolhedor para os funcionários que Dani se acostumou com celebrações inusitadas dentro do contexto cervejeiro, como a primeira dose da terapia hormonal ou remoção dos seios. Apesar de ser uma delícia ouvir os relatos de seus profissionais, ela explica que é preciso ter um cuidado extra com a saúde mental, pois o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais do mundo.

 

Cris: É uma delícia pra nós poder escutar, poder entender essas histórias e saber que estamos aproveitando a nossa vida e nosso privilégio pra fazer parte da mudança. São profissionais muito qualificados, mas às vezes você se depara com pessoas de 20 a 26 anos que passaram de 5 a 6 empregos e isso traz uma desconfiança e você tem que trabalhar para que a pessoa se sinta confortável e encare isso como um emprego normal.

 

Para muito além da contratação, em termos de inclusão e diversidade, os sócios do Torneira Bar dizem que só escolhem rótulos que tenham impacto social e político, evitando marcas de cerveja envolvidas em polêmicas racistas e LGBTfóbicas. Podemos enxergar que é com esse tipo de iniciativa que vamos mudando aos poucos o mercado cervejeiro, mostrando que cerveja é sim uma bebida para todes.

 

Obrigada pelo papo, Dani e Chris!

 

👉 Ouça também Surra de Lúpulo: Contratações no Mercado Cervejeiro com Rosária Pacheco e Lucas Niemeyer 

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